Línguas de circulação na região da UFFS, campus Cerro Largo
Segundo o documento elaborado pelo Colegiado da Diversidade Linguística do RS, é possível identificar no estado uma variedade de línguas e contatos linguísticos considerável. De acordo com as categorias de línguas previstas na política do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL) junto ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), temos: línguas indígenas, línguas afro-brasileiras, línguas de fronteira, línguas de imigração ou de herança e as línguas oficiais – a línguas de sinais e o português que, no RS, apresenta uma variedade regional, o português rio-grandense.
A região noroeste do RS, onde a UFFS está localizada, é rica histórica, linguística e culturalmente. No que se confere às línguas, circulam nesta região línguas indígenas, com grande presença das línguas Kaingang - Terra Indígena Inhacorá, em São Valério do Sul, e Terra Indígena Guarita (Erval Seco, Redentora e Tenente Portela) e Mbyá-Guarani, em São Miguel das Missões (Tekoá Koenju) e Santo Ângelo ( Tekoá Yakã Ju).
Ainda que não tenhamos conhecimento sistematizado sobre as línguas afro-brasileiras faladas/preservadas na região, é importante destacar que há, em Giruá, a representativa Comunidade Quilombola Corrêa e a Comunidade Quilombola Passo do Araçá, Patrimônio Cultural de Catuípe.
Há, também, a presença das línguas de fronteira, fundamentalmente presentes pelo contato linguístico entre brasileiros e argentinos. No intercâmbio com o outro lado da linha divisória, além do portunhol como língua de uso frequente, há a língua espanhola – sobretudo por conta da proximidade territorial e das relações com Argentina e Paraguai.
No que se refere às línguas de imigração ou línguas de herança, apresentamos aqui alguns dos municípios e línguas dos quais temos conhecimento de registro de imigrantes que mantiveram de alguma forma o contato com essas línguas. Trata-se de um movimento inicial de busca por mapear estes municípios e línguas, com o intuito de valorizar cada vez mais a pluralidade existente na região. No tocante, então, a essas línguas, há a presença de variedades do alemão (Cerro Largo, Santo Cristo, Campina das Missões, São Paulo da Missões, Ubiretama, Senador Salgado Filho, Sete de Setembro, Mato Queimado, Roque Gonzales, Salvador das Missões, São Pedro do Butiá...), do polonês (Guarani das Missões, Santa Rosa, Cândido Godói...), do Russo (Campina das Missões...), do italiano (Tuparendi, Tucunduva, Três de Maio, Santa Rosa, Independência, Santo Ângelo...), do holandês (Santo Ângelo, São Luiz Gonzaga).
É importante destacar o quanto esta diversidade é um patrimônio da região e que preservar estas línguas é preservar a história, a memória que dá vida a região.
A escrita deste texto teve colaboração dos professores:
Angelise Fagundes, Edemar Rotta, Marcus Fontana,
Bedati Aparecida Finokiet e Rejane Fiepke Carpenedo.
Alguns trabalhos de referência:
BRATZ, Maurício Engroff. Inter-relações culturais entre o português e o espanhol na zona fronteira Porto Xavier/ San Javier. TCC UFFS. 2014. Disponível em: https://rd.uffs.edu.br/handle/prefix/206
CARPENEDO, Rejane Fiepke; MORAES, Maike Isaquiel Bandeira; DIAS, Adriele Delgado; STURZA, Eliana Rosa. O apagamento da fronteira: espaço de enunciação, escola e políticas linguísticas de estado. In: A Diversidad lingüística, diversidad cultural: Actas IX Encuentro Internacional de Investigadores de Políticas Lingüísticas / compilado por Liliana Pérez; P. Rogieri. – 1da ed.- Rosario: Humanidades y Artes Ediciones - H. y A. Ediciones, 2019. Disponível em: http://grupomontevideo.org/publicaciones/wp-content/uploads/2019/11/C-E-BOOK-IX-Encuentro-2019-1.pdf
CARPENEDO; Rejane Fiepke; STURZA, Eliana. Espaço de enunciação da língua de imigração alemã: o funcionamento político da religião como lugar de memória. Caderno de Letras. Pelotas, n. 37, maio-agosto (2020) disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/cadernodeletras/issue/view/987
________. Imigrantes alemães e seus descendentes: movimento de sentidos entre o silêncio da censura e o silêncio do estigma. Revista Digital de Políticas Lingüísticas (RDPL) Núm. 11 (2019). Disponível em: https://revistas.unc.edu.ar/index.php/RDPL/article/view/26705
Coordenação do Colegiado Setorial da Diversidade Linguística do RS. DIVERSIDADE LINGUÍSTICA DO RS: inventariar, reconhecer, salvaguardar, promover. Disponível em: https://www.ufrgs.br/projalma/wp-content/uploads/2019/03/doc_colegiado_div_ling.pdf
EMATER. Comunidades Quilombolas do RS. Disponível em: http://www.emater.tche.br/site/area-tecnica/inclusao-social-produtiva/comunidades-quilombolas.php#.X1rfxWhKjIU
SCHALLENBERGER, Erneldo; HARTMANN, Hélio Roque. Novas terras, novos rumos. Livreiro e Editor: Santa Rosa, 1981.
SCHNEIDERS, Caroline Mallmann; HEINZMANN, Yasmin S. A escola e a interdição da língua dos imigrantes alemães nas missões do RS. Revista Línguas e Instrumentos linguísticos. Nº 42 – jul – dez 2018. Disponível em: http://www.revistalinguas.com/edicao42/edicao42.html